Curau de milho verde (ou canjica nordestina)

Lembranças da feira-livre

Minha mãe tinha o hábito de ir à feira do bairro toda semana. Quem estivesse em casa era convocado para carregar as frutas e legumes mais delicados. A feira é um lugar onde sempre fui com muito prazer, até mesmo em viagens, ao longo da vida. O colorido, os cheiros, a alegria dos feirantes sempre me fascinou. Imagino que para qualquer criança a feira seja um lugar mágico, e no meu caso, continua a ser até hoje.

 Gostoso era provar todas as frutas que eram oferecidas pelos feirantes. E eu adorava ver a luz sob as barracas, com o filtro dos toldos coloridos ou listrados. A criatividade de alguns feirantes que cantavam ou imitavam algum ator da novela do momento era de rir (ou de chorar!). Suas balanças desengonçadas eram algo que sempre olhei com desconfiança. Lembro-me da minha mãe dizendo que a melhor forma de não sermos enganadas era ter os seus vendedores de confiança. Nunca vinha peso abaixo do pedido, só acima!

Além das frutas e verduras, havia a banca de temperos. Todos aqueles chás e ervas empilhados, me transportavam a um lugar super perfumado, mas meio místico. Para mim, a vendedora tinha ares de bruxa, ainda mais quando recomendava algumas combinações de chás ou temperos. Eu também gostava da barraca de material de limpeza, onde vendiam acessórios e peças para diversos fins. Como a bendita borracha da panela de pressão, que em casa vivia frouxa fazendo o vapor escapar. Assim eu imaginava a caverna de Ali-Babá com alguns tesouros no meio de tanta quinquilharia. A única parte que eu não gostava era ter que ficar desviando dos carrinhos para que ninguém os passasse em cima do meu pé.

E no final da feira, o grande momento para o ajudante do dia: um copo de caldo de cana e um pastel de palmito (se ainda faltasse um tempinho para o almoço, é claro!). De certa forma era tanta degustação de uma ponta a outra, que nem sempre sobrava espaço para um pastel…

Conforme o que eu via entrar nas sacolas, já adivinhava o que iria comer nos próximos dias. Não eram muitas as variações no cardápio do dia a dia, o repertório naqueles tempos era pequeno. Entretanto, a gente só comia o que estava na época. Não existia fruta e verdura vendidas fora da estação. E quando os ingredientes preferidos voltavam a aparecer, logo vinha a vontade de comer algo especial feito com eles. 

Curau de milho verde

Uma das coisas que eu esperava o ano inteiro, era o curau de milho-verde. Minha mãe só o fazia com as espigas frescas, recém-chegadas da feira. Naquela época, ninguém vendia milho debulhado ou congelado e as espigas não eram embaladas em bandejas de isopor e filme plástico.

Eu a ajudava tirando as palhas das espigas no quintal, sentada em cima da tampa do poço. E adorava brincar juntando os cabelinhos e fazendo barbas e bigodes com minha irmã. No final da brincadeira, até o cachorro tinha franja. O que não era nada divertido eram as broncas para catarmos tudo o que tinha se espalhado pelo chão ou voado pelo quintal.

Enquanto a brincadeira acontecia, o curau cozinhava. E ficava pronto logo, a receita é muito fácil e rápida. O difícil era deixar ele esfriar, imagine só esperar para levar à geladeira? A gente cobria as tigelinhas com muita canela em pó e acabava queimando a língua com o curau quente.

Para adaptar a receita para uma versão vegana, testei primeiro com o leite de amêndoas e ficou ótimo, bem leve. Mas quando resolvi testar com o leite de coco caseiro, foi uma surpresa deliciosa. A combinação de coco e milho-verde é perfeita! 

Curau de milho verde

Curau de milho verde (ou canjica nordestina)

Porções 4 porções

Ingredientes

  • 4 espigas de milho verde
  • 500 ml de leite vegetal
  • 100 g de açúcar demerara
  • 1 pitada de sal
  • Canela em pó para polvilhar

Modo de fazer

  • Corte os grãos de milho da espiga, usando uma faca. Bata no liquidificador com o leite até ficar homogêneo.
  • Passe por uma peneira grossa.
  • Transfira para uma panela, junte o açúcar e o sal. Cozinhe em fogo médio, mexendo para não empelotar, até que levante fervura.
  • Abaixe o fogo e cozinhe, sempre mexendo, até que comece a engrossar.
  • Coloque em uma travessa (ou tigelinhas individuais) e espere esfriar. Cubra e leve à geladeira até o momento de servir.
  • Retire da geladeira um pouco antes de servir e polvilhe com canela em pó.

Notas

Já testei com leite de coco caseiro e com leite de amêndoas. Ficou bom com os dois, mas achei que ficou com um sabor incrível feito com o leite de coco!
Milho vintage

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Comentários

  1. Amei a receita,obrigada.

    1. Aqui em São Luís (e no resto do nordeste!) eles conhecem por canjica… Na época das festas de São João você encontra em todo lugar…Uma delícia!

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