As surpresas que a vida reserva
Nos últimos anos eu segui o ritmo ditado pelo mar e pelos ventos aqui do Maranhão, e também sonhando com alguns projetos relacionados com a alimentação e uma vida mais simples. Mas há poucas semanas, durante a minha prática de ioga, senti um nódulo na mama esquerda. Depois do susto, marquei uma consulta com a minha ginecologista para o dia seguinte.
Respirei fundo e me agarrei à ideia de que não seria nada sério. Queria acreditar que certas coisas nunca vão acontecer conosco, e também lembrei de que havia feito meus exames de rotina cinco meses antes, incluindo a mamografia.
A médica encaminhou-me para um ultrassom no andar de baixo e ficou aguardando o resultado, mesmo já tendo encerrado os seus atendimentos. Com o resultado na mão, foi inevitável a necessidade de fazer uma biópsia, que ficou marcada para o dia seguinte, logo cedo. Fui para casa com os pensamentos confusos e o coração batendo apertadinho.
A amostra retirada na biópsia foi enviada para um laboratório em São Paulo e, entre ir e voltar, demorou três longas semanas. Período em que quase não dormi e não conseguia me concentrar nas tarefas mais simples. A minha mente vagava entre todas as diferentes possibilidades do que viria pela frente.
O resultado dessa biópsia foi negativo e depois de tanta ansiedade, resolvemos viajar por alguns dias para respirar e comemorar. Me sentia como alguém que reencontra o chão embaixo dos pés. Marquei uma consulta com uma mastologista para dali duas semanas, e então saberia se a recomendação era de cirurgia ou algum tratamento. Aliviada, acreditei que a vida voltava ao seu curso.
Na volta das nossas micro férias fui para a consulta me sentindo intranquila. Lembro que apesar do resultado negativo da biópsia, eu não estava totalmente convencida de que não havia nada errado acontecendo. Talvez a minha intuição estivesse tentando me dizer algo, e aquele nódulo crescendo, também.
A primeira providência solicitada pela nova médica foi uma nova biópsia e a coleta de material seria no mesmo dia, dali algumas horas. Desta vez seriam diversas amostras, não só uma. O material seria analisado no hospital em São Luís e, o carimbo de urgência nas guias acendeu uma luz vermelha piscando freneticamente dentro do meu cérebro. Me senti completamente paralisada até o resultado sair.
O diagnóstico
Lembro-me perfeitamente do semblante do Celso quando entrou em casa com o envelope do hospital nas mãos. Ficou claro que naquele momento a minha vida estava passando por uma ruptura. Um abismo se abria entre o mundo e eu. Minha vida estava em suspenso.
Com o resultado positivo veio uma avalanche de outros exames. Fiz tudo no mesmo dia, o mais importante era saber o tipo de câncer e assim começar o tratamento o mais rápido possível. Toda aquela urgência e apreensão se confirmaram em poucos dias com o diagnóstico de um câncer de mama mais raro e muito mais agressivo, com a probabilidade de recorrência em menos tempo e menos opções de tratamento. Estou me habituando a ouvir o termo “triplo negativo” com carcinoma metaplásico invasivo, estágio III B, e outras que, infelizmente, agora serão familiares.
Diagnóstico em mãos, fui encaminhada para a oncologista que vai me acompanhar. A primeira, foi uma consulta difícil, longa, cheia de informações que levarei um tempo para assimilar e prognósticos que eu não quis evitar.
Em menos de uma semana o meu tratamento começou. A cirurgia só virá depois. A prioridade é retardar o avanço do câncer, e tentar diminuir o nódulo. Recebi uma lista de recomendações (ou seriam restrições?) e remédios para minimizar os efeitos colaterais esperados. O pesadelo do que eu conhecia a respeito de uma quimioterapia é a minha nova realidade.
Sobre a receita do curry
Eu normalmente evito comer fora de casa – em parte, porque faltam boas opções vegetarianas estritas (ou veganas) e, por outro lado, porque nem sempre confio na forma como a comida é preparada. Se o prato tem verduras cruas, fico com receio de que não tenham sido bem higienizadas. Os ingredientes utilizados também me deixam um tanto preocupada: tipo de óleo, temperos super processados, enlatados, excesso de sal, etc. Daqui em diante esse tipo de cuidado será redobrado.
Fiz o curry de lentilha, berinjela e taioba em quantidade maior, e alguns potinhos dele já estão morando no freezer. Uma boa solução para ter uma reserva pronta de comida. Na minha opinião, as folhas de taioba são o ponto alto em termos de sabor. Mas, se não encontrar, substitua por couve, espinafre ou outra folha que você goste ou tenha à disposição.
Outro ingrediente que faz a diferença nesta receita é o garam masala, uma mistura de cominho, coentro em pó, canela, cravo, gengibre, louro, pimenta, noz-moscada e cardamomo. Mas também dá para criar uma combinação dessas especiarias, ou as que tiver em casa. Tenho certeza de que o resultado será incrível!
Curry de lentilha, berinjela e taioba
Ingredientes
- 2 colheres (sopa) de azeite de oliva
- 1 cebola picada
- 1 pedaço de gengibre fresco ralado
- 2 dentes de alho picado
- 1 colher (sopa) de curry em pó
- ½ colher (sopa) de garam masala (opcional)
- Pistilos de açafrão
- ½ colher (chá) de páprica picante (ou a gosto)
- 1 berinjela cortada em cubos grandes
- 2 cenouras cortadas em rodelas
- 1 ½ xícaras de leite de coco
- 1 ½ xícaras de lentilha cozida
- Folhas de taioba cortadas em tiras finas (ou couve, espinafre)
- Sal
- Folhas de coentro fresco picadas
Modo de fazer
- Aqueça uma panela média com fundo grosso. Refogue a cebola com o azeite até ficar translúcida. Junte o gengibre ralado e o alho e refogue por mais 1 minuto.
- Abaixe o fogo e adicione o curry, o garam masala, o açafrão e a páprica. Cozinhe por 1 minuto, mexendo bem.
- Acrescente a berinjela e a cenoura e misture bem até envolver os pedaços com as especiarias. Cubra com o leite de coco e junte ½ xícara de água. Cozinhe até levantar fervura.
- Junte a lentilha e a taioba (ou couve). Misture bem e corrija o tempero com sal. Cozinhe até a lentilha estar aquecida (de 5 a 10 minutos).
- Polvilhe as folhas de coentro no momento de servir.