Alguns aromas têm a capacidade de trazer lembranças boas e tão reais. Elas conseguem nos transportar para outros lugares em questão de segundos. Esse é um dos pontos que mais amo na culinária. A forma como a comida nos marca em relação a lugares, pessoas e situações.
O limão-siciliano é mais que uma fruta cítrica na minha vida. É um perfume marcante que está presente em diferentes momentos. Plantar um pé de limão -siciliano se tornou uma regra em diferentes casas e cidades nas quais morei. Colher limões para preparar as minhas receitas é um prazer que não tenho como descrever.
Mas a combinação de dois aromas em particular, figo e limão-siciliano, me leva para longe, para o sul da Itália, há mais de uma década. Um litoral no qual a paisagem é formada por encostas rochosas e verticais, tornando qualquer ida até à praia uma longa caminhada (e uma subida cruel na volta!). Isso se é possível chamar de praia as pequenas enseadas em meio aos paredões de pedra, onde não se pisa em areia fina, e sim em pedras. Lá, a água é sempre gelada, mesmo no verão.
Um momento especial nessas pequenas vilas italianas é caminhar até a praia. Não existem ruas, somente caminhos e algumas escadas. É preciso atravessar quintais, contornando varais cheios de roupa secando ao sol. Passar próximo a portas abertas onde se ouvem barulhos domésticos como panelas e crianças brincando. Os gatos e cachorros preguiçosos não interrompem a soneca na sombra nem com o barulho dos nossos passos.
No local, a bebida típica é o “Limoncello”, uma aguardente feita com o limão-siciliano inteiro (suco e casca). E a sobremesa mais recomendada se chama “Delizia al limone”. Nem é preciso adivinhar do que é feita. As árvores plantadas nas encostas são na maioria limões-sicilianos. Eles são apoiados por estruturas de madeira para suportar o peso das frutas na época da produção. E, em um canto ou outro, os pés de figo são pressentidos pelo perfume que exalam com o ar quente do verão.
Mexer uma panela com a colher de pau enquanto a geleia engrossa, é sempre um momento especial. Mas nessa receita eu vejo algo melhor por conta dessa combinação de aromas com tantas lembranças boas. No entanto, existem alguns detalhes sobre os ingredientes para chegar a um resultado melhor.
As geleias feitas só com a fruta e açúcar precisam de um cozimento longo, para engrossar e chegar no ponto desejado. Além disso, é preciso usar bastante açúcar, ou escolher frutas que tenham pectina. A pectina é um tipo de fibra solúvel encontrada nas cascas de frutos e alguns vegetais e é a responsável por criar a consistência de gel.
Como o figo é uma fruta pobre em pectina, adicionei a maçã. Além de aumentar o volume da geleia, a maçã é rica em pectina natural. Caso opte pela pectina em pó, é possível usar só figo, limão e açúcar e conseguir um sabor bem marcante e consistência firme. Uma dica para quem prefere usar a pectina em pó é misturá-la com parte do açúcar, antes de juntar na panela, para não formar grumos.
Geleia de figo e limão-siciliano
Ingredientes
- 500 a 600 gramas figos maduros
- 300 g açúcar
- 1 limão-siciliano (raspas e suco)
- 1 maçã (sem casca e sementes)
Modo de fazer
- Descasque e pique os figos. Rale a maçã e reserve.
- Coloque os figos, suco e raspas de limão em uma panela de fundo grosso. Cozinhe em fogo baixo até os figos ficarem macios.
- Retire do fogo e bata no processador ou com o mixer.
- Volte para a panela, junte o açúcar e a maçã ralada. Cozinhe em fogo médio até engrossar, mexendo de vez em quando para não queimar o fundo.
- Retire do fogo e transfira para vidros esterilizados enquanto ainda está quente. Tampe em seguida. Espere esfriar e guarde na geladeira.
Amo essa delicadeza da comida feita aqui. Santo legume! Amém!