Depois da última postagem no blog, recebi inúmeras mensagens sobre a horta que fiz. Muitos elogiaram, outros disseram que adorariam ter espaço para plantar (principalmente num momento como esse!). Mas uma das coisas mais interessantes que notei foi uma certa “romantização” do ato de plantar.
Achei importante contar aqui que “nem tudo são flores” entre o ato de plantar e o momento de colher. Nesse meio tempo acontece muita coisa, e algumas delas não são boas ou animadoras… Há muitos momentos em que a gente desanima, e outros onde o cansaço nos leva a questionar se vale ou não a pena tanto empenho!
Antes que pareça um texto negativo, explico: dois anos atrás, quando recebi o diagnóstico de câncer, foi inevitável começar um balanço bem profundo da minha vida. Passou um filme de tudo aquilo que já vivi, e o foco se voltou então para aquilo que ainda quero fazer. Meses depois descobri o real sentido de uma “bucket list“. Provavelmente você associou como a “lista de coisas para fazer antes de morrer”, mas prefiro pensar nela como uma “lista de desejos”. Afinal, ela não precisa estar relacionada com a morte.
Quando nos sentimos mais próximos da morte é inevitável sentir uma certa urgência naquilo que ainda não realizamos, nos sonhos que não foram vividos. Senti então a necessidade de começar a escrever uma lista com tudo aquilo que gostaria de fazer. Me senti bem feliz ao ver que andei realizando muitos sonhos e projetos durante a minha vida… Minha lista não era enorme e cheia de arrependimentos por aquilo que não fiz. Ao contrário, percebi que ajuda bastante saber que sua vida foi bem vivida até então, principalmente quando existe a possibilidade de ela ser interrompida logo mais. O medo deve ser decorrente de uma vida que não foi vivida como o desejado, aproveitando todas as possibilidades oferecidas.
Ao conversar com outras pessoas sobre a minha lista, senti uma certa apreensão por parte deles. Não só por eu estar fazendo isso, mas porque era inevitável olharem para si próprios. Descobri que, infelizmente, a bucket list de muita gente seria algo enorme, e muitas vezes, mesmo com muita saúde até o final, seria difícil realizar boa parte do que consta nela. Faltaria tempo! Isso significa obviamente que tem muita gente deixando de viver plenamente. É triste…
Voltando à minha horta, sim, ela fazia parte da minha bucket list! Já tive muita hortinha de tempero em varanda de apartamento, plantei algumas sementes em vasinhos, flores e plantas em vaso e algumas árvores em lugares por onde morei. Mas queria fazer uma horta com o pacote completo: plantar as sementes nas bandejas, transplantar quando estivessem prontas (mesmo que muitas não dessem nem sinal de vida!), e cuidar, cuidar, cuidar… Até o momento de colher!
Não quero que a postagem soe pesada ou triste. Pelo contrário — em tempos tão difíceis como os que estamos vivendo, vale a pena revisar nossa lista de desejos e checar se estamos sendo realmente legais conosco! Se estamos buscando viver plenamente, se estamos lutando para sermos felizes e vivermos de acordo com aquilo que acreditamos.
Deixo uma dica para quem gosta de ler: ganhei no ano passado um livro sobre o assunto: “A morte é um dia que vale a pena viver”, da Ana Claudia Quintana. Não se enganem, ele não fala da morte, e sim da vida. É lindo, recomendo!
E antes que eu me esqueça, a abóbora e a sálvia que usei nesta receita deliciosa foram colhidas na minha horta… E o ravióli de abóbora e sálvia é uma das minhas receitas preferidas!
Ravioli de abóbora com sálvia
Ingredientes
Massa:
- 360 g de farinha de trigo
- 2 colheres (sopa) de farinha de grão-de-bico
- 1 xícara de água filtrada
- 1 colher (sopa) de azeite de oliva
Recheio:
- 500 g de abóbora descascada e picada
- 1 cebola pequena picada
- 100 g de tofu, bem seco em um pano
- 3 colheres (sopa) de farinha de amêndoas (ou farinha de arroz integral)
- 6 folhas de sálvia picadas
- 1/2 colher (chá) de noz moscada ralada
- Queijo vegetal ralado (opcional)
Para servir:
- Ghee vegano
- Azeite de oliva
- Folhas de sálvia inteiras
- Queijo vegetal ralado
- Pimenta do reino moída na hora
Modo de fazer
Recheio:
- Aqueça o forno (200°C). Espalhe a abóbora em uma assadeira e leve ao forno até ficar macia.
- Amasse a abóbora com um garfo. Espere esfriar e junte os outros ingredientes do recheio. Teste o tempero. Reserve.
Massa:
- Coloque as farinhas em uma tigela ou sobre uma superfície lisa e limpa. Faça uma depressão no centro e vá juntando a água. Misture com as mãos até formar uma bola. Sove até que a massa fique elástica. Quando apertar com o dedo a massa deve voltar.
- Divida a massa em 4 ou 5 porções. Amasse uma porção de cada vez, formando um retângulo pequeno. Polvilhe com um pouco de farinha. Abra a massa com um rolo ou a máquina de macarrão, até formar tiras com 12 a 15 cm de largura e espessura fina.
- Estique a massa sobre uma superfície lisa e ligeiramente enfarinhada. Coloque colheradas do recheio a cada 5cm, sobre metade da massa, no sentido do comprimento da tira.
- Dobre a tira no sentido da largura, cobrindo as colheradas de recheio. Pressione com os dedos entre as porções de recheio para selar a massa. Corte usando um cortador ou um copo pequeno. Aperte bem as extremidades para não vazar o recheio.
Preparo:
- Leve uma panela grande com água e um pouco de sal ao fogo até ferver. Cozinhe alguns raviolis de cada vez, por uns 2 minutos, ou até subirem. Escorra com uma escumadeira e transfira para uma travessa. Regue com um fio de azeite. Repita com o restante dos raviolis.
- Frite as folhas de sálvia inteiras em algumas colheres de ghee vegano, até que fiquem crocantes.
- Sirva os raviolis cobertos com a manteiga e as folhas de sálvia e polvilhados com queijo vegetal ralado e pimenta-do-reino (moída na hora, de preferência).
Adorei suas receitas já vou fazer um fermentado de acelga japonesa que é o que tenho na geladeira. Depois te conto como ficou. Muito grata por compartilhar tanta sabedoria.
Conte como ficou!
Lindo texto, me fez refletir…
A receita farei com muito gosto!!!
Gratidão!
Me conta depois como ficou Carla!
Nunca fiz ravioli, depois de ler essa receita serei obrigada a fazer kkkkkkk
Bom dia Monica mt paz e saúde pra vc….amo suas receitas.bjs
Excelente Receita! Gosto muito do seu Trabalho!! Parabéns!!!
O livro que fala é realmente fantástico, adorei!
Faz-nos olhar para a vida (e para a morte) de uma forma diferente.
Gosto de ler os seus posts! Obrigada pela partilha.
Fico tão feliz quando recebo um retorno tão carinhoso! Obrigada
Lindo! Dá pra sentir o perfume desse prato…
Quanto a vida, ela e a morte são inseparáveis não é? Quem é que sabe nosso dia de partida? É claro que estar doente pode ter um sentido de finitude – é tb o que passamos a vida acreditando – mas tenho dúvidas quanto a essa “lógica”.☺️
Já faz muito tempo que olho pra vida e penso que bacana, quantas coisas eu vi, quantos lugares eu fui, quantas imagens lindas eu vi, tanta tanta coisa, muito além do que poderia imaginar…se eu não acordar amanhã, estou certa que já vivi bastante!
Porém, se eu acordar, é dia de feira e vou trazer sálvia e abóbora para me aventurar nessa sua receita deliciosa!
Obrigada por compartilhar seu talento.
Adorei a mensagem linda! Me conta como ficou o ravioli…
Olá td bem? Como se chama esse aparelhinho parecendo um carimbo pra modelar e cortar Os ravióli? Onde encontro?bj.obg.
Olá Solange! É um cortador de ravióli, existe no formato quadrado e no redondo. Você encontra em lojas de artigos culinários e em alguns grandes magazines.